Sugiro que você escute essa música enquanto lê o post para dar mais emoção à história:
Ia chegar um momento que eu não poderia mais fugir, teria que ir àquele bar de rock – rock de verdade – assistir o meu marido tocar.
O dia chegou. Achei que não seria muito difícil me sentir parte das pessoas, porque até aquele instante, eu me achava muito descolada. E estava me sentindo o máximo com aquele cabelo raspado, um anel de caveira e uma tatuagem no braço. Mas chegando lá, logo na porta, me deparei com pessoas que me fizeram pensar “sabe de nada, inocente”. Eram mais do que tatuagens descoladas. Eram meias arrastão, maquiagens superartísticas e nem quando eu me fantasiei de gótica estava tão gótica quanto qualquer pessoa ali.
Entrei. Era um porão de pedras com cartazes de filmes de terror pelas paredes e eu fiquei imaginando como a última pessoa que vai embora deve se sentir ao ter que apagar a luz ali sozinha.
O show começou. Fiquei em um cantinho com a minha garrafinha de água na mão e os pés juntinhos cantando mentalmente “festa estranha com gente esquisita”. A pista em frente ao palco encheu, o vocalista começou a cantar e a minha primeira dúvida foi: como um mocinho tão bonitinho como aquele consegue fazer uma voz dessas? Meu pensamento foi interrompido por um balde de cerveja que estava virando exatamente em cima do meu pé porque começou um aglomerado de homens se chutando e se empurrando de uma forma descontrolada. Conversando com meu marido sobre isso depois, descobri que o nome disso é pogo. Sou muito descolada agora por saber disso, né?
Até que olhei novamente para o palco: o meu príncipe, aquele me acorda carinhosamente todos os dias, faz mamá pro nosso filho e dá carinho para o nosso gato, estava ali, descabelado, dançando igual a todas as pessoas com a cabeça freneticamente pra frente e pra trás ao mesmo tempo em que tocava seu baixo com uma cara de supermalvado.
A parte dos cabelos é importante lembrar também: em muitos momentos eu não via nada além de mil cabelos no meu rosto me afogando, o pré-requisito para ser desse mundo é ter cabelo comprido para ser um head banger. Eu tinha certeza que a qualquer momento iria vomitar uma bola de cabelos igual a um gato vomita suas bolas de pelos. Porém, acho válido ressaltar que todos os cabelos estavam muito cheirosinhos! Era um cheiro de Palmolive pelo ar.
O show acabou, a água da garrafinha também e a minha missão estava concluída com sucesso. Eu fui a um show de rock – rock de verdade – assistir o meu marido tocar.
Conclusão da noite:
- Em 2013, quando o Papa Francisco foi eleito, eu postei que é incrível ver muitas pessoas juntas felizes pelo mesmo motivo, “na mesma vibe”, e o que eu percebi naquele dia reafirmou esse meu sentimento: mesmo que esse estilo seja totalmente oposto ao meu mundo, no final da noite eu já estava inevitavelmente dançando me deixando levar pela energia que estava presente ali.
- Por mais violentas que essas pessoas parecessem no “pogo”, ninguém estava realmente brigando em momento algum. Ao contrário do que acontece nas baladas “normais” que eu estou acostumada a frequentar. São uns metaleiros fofinhos! <3 hahaha
- Fica uma sugestão super válida para as empresas de shampoos: patrocinem shows de heavy metal. Eles vão se identificar. Balançar a cabeleira é comum nesses lugares.
4 de dezembro de 2014 - 18:38
Pri, sua análise antropológica nesse texto é sensacional!! Faça mais desses, please!